20 Fevereiro 2023
Depois de mais de um ano de entrevistas e investigações, a comissão independente de Portugal sobre a violência sexual contra menores ligada à Igreja publicou nesta semana as conclusões de seus estudos. O relatório, divulgado na segunda-feira passada, analisa casos de abuso que remontam a 1950.
A reportagem é de Juliette Paquier, publicada por La Croix International, 15-02-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Diversos outros países da Europa já realizaram investigações semelhantes. Mas há alguns que ainda relutam em fazê-lo. Aqui está uma rápida olhada na situação.
Em Portugal, a comissão independente para a prevenção do abuso sexual de menores e adultos vulneráveis foi constituída pela Conferência Episcopal católica em novembro de 2021. Composta por leigos qualificados e “alguns não católicos”, a comissão coletou mais de 500 testemunhos validados, embora as revelações envolvam um número total de vítimas estimado em pelo menos 4.815, segundo o número divulgado na segunda-feira.
Na Espanha, a questão do abuso sexual na Igreja passou a ser investigada após a publicação em 2021 de uma reportagem do jornal nacional El País. Após vários meses de procrastinação e sob pressão política, a Igreja finalmente contratou um advogado para realizar uma auditoria sobre o assunto em fevereiro de 2022.
Segundo estimativas iniciais divulgadas em julho de 2022, foram identificados “entre 1.000 e 2.000 casos”, sendo que a maioria das denúncias remontam aos anos 1970 e 1980. Ao mesmo tempo, os deputados espanhóis votaram em março de 2022 para criar uma comissão parlamentar de inquérito para investigar o assunto. Suas conclusões são esperadas nas próximas semanas.
Em outubro passado, os bispos espanhóis também criaram uma plataforma para fazer denúncias e evitar o abuso de menores dentro da instituição.
Na França, a Comissão Independente sobre Abuso Sexual na Igreja (Ciase), presidida pelo alto magistrado Jean-Marc Sauvé, apresentou suas conclusões em 5 de outubro de 2021, após quase dois anos de investigação. O relatório final estima que 330.000 menores foram vítimas de padres, religiosos e pessoas que trabalham em instituições católicas desde 1950.
Na Alemanha, em 2014, uma investigação confiada a três universidades concluiu que mais de 3.600 crianças foram vítimas entre 1946 e 2014 de cerca de 1.700 religiosos ou 4,4% do clero.
Outra investigação realizada em 2017 descobriu que pelo menos 547 crianças do Coro da Catedral de Regensburg foram supostamente abusadas entre 1945 e o início dos anos 1990.
Bento XVI, que morreu em dezembro, também foi interrogado no início de 2022 pelo modo como lidou com o crime de pedofilia na Alemanha, quando era arcebispo de Munique.
Segundo um relatório dessa diocese, pelo menos 497 pessoas, a maioria meninos e adolescentes, foram vítimas de agressão entre 1945 e 2019. Além disso, segundo outro relatório de junho de 2022, pelo menos 610 crianças foram agredidas sexualmente por clérigos da Diocese de Münster durante um período de 75 anos.
Na Bélgica, vários órgãos têm trabalhado a questão desde o início dos anos 2000. Em 2010, um primeiro relatório da Comissão Adriaenssens recebeu 488 denúncias, incriminando 320 perpetradores de abuso sexual.
Nove anos depois, em fevereiro de 2019, a Igreja publicou um relatório sobre o abuso sexual de menores dentro da Igreja, que listava 1.000 novas denúncias registradas no “centro de arbitragem” criado pela instituição.
Em 2010, após várias reportagens sobre o abuso sexual divulgadas na imprensa, a Conferência dos Bispos da Holanda e a Conferência dos Institutos Religiosos Holandeses anunciaram que queriam uma investigação “abrangente, externa e independente”.
O relatório final, divulgado 18 meses depois, disse que aproximadamente um em cada dez holandeses com 40 anos ou mais foi abusado por alguém de fora de sua família. Entre as supostas vítimas, “várias dezenas de milhares de menores” foram abusadas sexualmente dentro da Igreja Católica entre 1945 e 2010.
A Igreja Católica na Irlanda foi pioneira na luta contra o abuso sexual de menores. Em 2009, uma comissão nacional encarregada de investigar todas as instituições juvenis revelou, no Relatório Ryan, em homenagem ao juiz encarregado da investigação, que mais de 2.000 crianças foram abusadas em 216 instalações administradas por ordens religiosas. É uma das investigações mais aprofundadas realizadas no continente europeu. Oitocentos abusadores, incluindo padres, foram incriminados.
A Igreja Católica na Itália se recusou a realizar uma investigação independente, mas várias associações leigas se pronunciaram sobre o assunto. Nove delas se uniram em fevereiro de 2022 para exigir a instituição de uma comissão de inquérito independente no modelo da Ciase da França.
E apenas algumas semanas atrás, a rede italiana L’Abuso, em conjunto com a associação internacional ECA Global (Ending Clergy Abuse), publicou um relatório listando 418 casos de padres condenados ou acusados de violência sexual contra menores ao longo dos últimos 13 anos.
Na Polônia, um documento divulgado em 2021 pela comissão estatal sobre pedofilia revelou que, entre 2017 e 2020, 30% dos abusos sexuais de menores foram cometidos por padres e religiosos católicos. A Igreja polonesa já havia sido abalada com o lançamento, em 2019, de um documentário sobre o tema, de autoria e direção do jornalista Tomasz Sekielski.
Na sequência desse documentário, os bispos católicos publicaram um documento que dá conta de 382 casos de abuso sexual na Igreja, um número amplamente criticado pelas associações das vítimas, que o consideram subestimado.
Centenas de denúncias de agressões sexuais a menores cometidas pelo clero também foram registradas no país desde 2018.
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Como os países europeus estão enfrentando o abuso sexual clerical - Instituto Humanitas Unisinos - IHU